Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) já iniciaram investigações sobre Alan Landecker, especialista em rinoplastia. O médico repudia as acusações e atribui o problema ao descumprimento das orientações pelos pacientes no pós-operatório
Pacientes do renomado cirurgião plástico suspeito de deformar narizes em hospitais da cidade de São Paulo afirmaram ao g1 nesta quinta-feira (4) que não tiveram alta mesmo dois anos após o procedimento estético, já que seguem em tratamento, sem acesso a um prontuário que oriente os próximos passos e sem entender exatamente como um procedimento para trazer benefícios emocionais trouxe tantos danos.A Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) já iniciaram investigações sobre Alan Landecker, especialista em rinoplastia.
O médico disse que repudia as acusações e atribui o problema ao descumprimento das orientações pelos pacientes no pós-operatório (leia a nota ao final desta reportagem).
A advogada Marília Frank no entanto, é uma das pacientes insatisfeitas do dr. Alan, que registrou boletim de ocorrência após o procedimento cirúrgico e que continua com pendências sobre o caso.
30 pacientes lesados
Marília registrou um dos boletins de ocorrência que orientam as investigações da polícia e, assim como os cerca de 30 pacientes que integram o grupo "Pacientes do Alan" no Whatsapp, teve complicações devido a uma grave infecção bacteriana.
Um dos casos mais graves é o do empresário Veraldino de Freitas Júnior, de 35 anos, que realizou a cirurgia com o médico em setembro de 2020 e continua com uma ferida aberta.
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Veraldino de Freitas Júnior realizou a cirurgia com Alan Landecker em setembro de 2020 e continua com uma ferida aberta — Foto: Arquivo Pessoal
'Estou sem olfato'
Paula Oliveira, de 38 anos, também relata que a cirurgia impacta negativamente a vida dela, mesmo um ano após o procedimento./i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/A/L/ElZAGsTTG8aAL9qN7Kjw/microsoftteams-image-2-.png)
Fotos antes e depois de Paula Oliveira, uma das pacientes que relatam impactam impactos negativos, mesmo um ano após a rinoplastia — Foto: Arquivo Pessoal
"Eu fiz a cirurgia quando estava me recuperando de uma depressão, pronta para mudar de país e com emprego engatilhado por lá. Optei conscientemente por investir R$ 50 mil no melhor especialista, que não me desse problemas depois, mas ele devolveu um nariz pior e ainda bloqueou minha vida", disse ela, que teve que abrir mão do trabalho para tratar a infecção.
Informações forjadas no prontuário
"Eu só queria um ajuste e hoje eu trato diariamente de um problema. Tenho buraco no septo, mas o caso vai muito além de questões estéticas e de saúde - tem uma prática antiética envolvida. Descobri que ele opera sem médico assistente, embora paguemos por isso. Quem o acompanha é um instrumentador. Ou seja, estimula e é conivente com o exercício ilegal da medicina. Outra coisa é o prontuário - quando o acesso não é blindado, há informações forjadas ou omitidas. No meu, por exemplo, não há menção ao uso que fiz de antibióticos. Isso é muito sério porque atrapalha o tratamento com outros profissionais. Ninguém quer pegar meu caso", completou.
"Me curei da infecção depois de um terceiro procedimento, mas ainda estou sem olfato, preciso esperar um prazo para fazer o reparo estético, já que fiquei com o nariz deformado, gastei o dobro do que previa com isso e sigo usando todas as minhas economias enquanto não consigo um novo trabalho", continuou Paula.
"No pós-operatório, meu nariz não desinchou, com o passar dos dias começou a feder, com as pessoas do meu convívio percebendo o odor insuportável, até que no 15º dia abriu uma ferida", contou ele, acrescentando que foi o início de uma saga que já lhe custou R$ 300 mil, outras três cirurgias, o uso intravenoso de antibióticos duas vezes ao dia e sua saúde emocional.
"Fiz a cirurgia em maio deste ano e, quando ele tirou o último curativo, viu que a cartilagem estava podre. Meu nariz estava estragado, eu estava toda torta e ele me mandando pra casa tomar analgésico", disse ela ao g1.