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Cirurgião plástico é suspeito de deformar nariz de pelos menos 30 pessoas

05/11/2021 05/11/2021 06:54 189 visualizações
Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) já iniciaram investigações sobre Alan Landecker, especialista em rinoplastia. O médico repudia as acusações e atribui o problema ao descumprimento das orientações pelos pacientes no pós-operatório
Pacientes do renomado cirurgião plástico suspeito de deformar narizes em hospitais da cidade de São Paulo afirmaram ao g1 nesta quinta-feira (4) que não tiveram alta mesmo dois anos após o procedimento estético, já que seguem em tratamento, sem acesso a um prontuário que oriente os próximos passos e sem entender exatamente como um procedimento para trazer benefícios emocionais trouxe tantos danos.

A Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) já iniciaram investigações sobre Alan Landecker, especialista em rinoplastia.

O médico disse que repudia as acusações e atribui o problema ao descumprimento das orientações pelos pacientes no pós-operatório (leia a nota ao final desta reportagem).

A advogada Marília Frank no entanto, é uma das pacientes insatisfeitas do dr. Alan, que registrou boletim de ocorrência após o procedimento cirúrgico e que continua com pendências sobre o caso.

30 pacientes lesados

"Foi meu infectologista quem o convenceu sobre uma segunda cirurgia, mas ele não tirou todo o tecido morto e a infecção tomou todo o meu rosto. Sigo em tratamento com um otorrino, que fez uma terceira cirurgia e prevê mais duas, sendo uma para reconstrução da columela porque ele retalhou meu nariz, e aí, sim, uma reparadora. Quero justiça. Ele me enrolou por dois meses e a impressão é de que estava lucrando com a infecção", continuou.

Marília registrou um dos boletins de ocorrência que orientam as investigações da polícia e, assim como os cerca de 30 pacientes que integram o grupo "Pacientes do Alan" no Whatsapp, teve complicações devido a uma grave infecção bacteriana.

Um dos casos mais graves é o do empresário Veraldino de Freitas Júnior, de 35 anos, que realizou a cirurgia com o médico em setembro de 2020 e continua com uma ferida aberta.

Veraldino de Freitas Júnior realizou a cirurgia com Alan Landecker em setembro de 2020 e continua com uma ferida aberta — Foto: Arquivo Pessoal

Veraldino de Freitas Júnior realizou a cirurgia com Alan Landecker em setembro de 2020 e continua com uma ferida aberta — Foto: Arquivo Pessoal

'Estou sem olfato'

Paula Oliveira, de 38 anos, também relata que a cirurgia impacta negativamente a vida dela, mesmo um ano após o procedimento.
Fotos antes e depois de Paula Oliveira, uma das pacientes que relatam impactam impactos negativos, mesmo um ano após a rinoplastia — Foto: Arquivo Pessoal

Fotos antes e depois de Paula Oliveira, uma das pacientes que relatam impactam impactos negativos, mesmo um ano após a rinoplastia — Foto: Arquivo Pessoal

"Eu fiz a cirurgia quando estava me recuperando de uma depressão, pronta para mudar de país e com emprego engatilhado por lá. Optei conscientemente por investir R$ 50 mil no melhor especialista, que não me desse problemas depois, mas ele devolveu um nariz pior e ainda bloqueou minha vida", disse ela, que teve que abrir mão do trabalho para tratar a infecção.

Informações forjadas no prontuário

Outra paciente, uma empresária de 39 anos que prefere não se identificar, acionou as mesmas autoridades, e também o Ministério Público. Com Alan, ela fez cinco cirurgias, sendo a primeira em junho do ano passado, e continua tratando da infecção.

"Eu só queria um ajuste e hoje eu trato diariamente de um problema. Tenho buraco no septo, mas o caso vai muito além de questões estéticas e de saúde - tem uma prática antiética envolvida. Descobri que ele opera sem médico assistente, embora paguemos por isso. Quem o acompanha é um instrumentador. Ou seja, estimula e é conivente com o exercício ilegal da medicina. Outra coisa é o prontuário - quando o acesso não é blindado, há informações forjadas ou omitidas. No meu, por exemplo, não há menção ao uso que fiz de antibióticos. Isso é muito sério porque atrapalha o tratamento com outros profissionais. Ninguém quer pegar meu caso", completou.

"Me curei da infecção depois de um terceiro procedimento, mas ainda estou sem olfato, preciso esperar um prazo para fazer o reparo estético, já que fiquei com o nariz deformado, gastei o dobro do que previa com isso e sigo usando todas as minhas economias enquanto não consigo um novo trabalho", continuou Paula.

"No pós-operatório, meu nariz não desinchou, com o passar dos dias começou a feder, com as pessoas do meu convívio percebendo o odor insuportável, até que no 15º dia abriu uma ferida", contou ele, acrescentando que foi o início de uma saga que já lhe custou R$ 300 mil, outras três cirurgias, o uso intravenoso de antibióticos duas vezes ao dia e sua saúde emocional.
"Fiz a cirurgia em maio deste ano e, quando ele tirou o último curativo, viu que a cartilagem estava podre. Meu nariz estava estragado, eu estava toda torta e ele me mandando pra casa tomar analgésico", disse ela ao g1.